Clube de Revista Pulmão

Reexaminando o PCI em SCLC: uma revisão sistemática e metanálise.

Pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (SCLC) têm um risco aumentado de desenvolver metástases cerebrais, 15% dos pacientes apresentam metástases cerebrais no momento do diagnóstico e mais de 50% desenvolvem metástases cerebrais em 2 anos.  Dessa forma, a Irradiação Craniana Profilática (PCI) após a terapia de primeira linha é recomendada tanto para o cenário de doença localizada quanto para a doença extensa. Entretanto, esta prática é questionada atualmente devido a melhora das terapias sistêmicas associadas às tecnologias em diagnóstico por imagem.

Assim, a meta-análise “Re-examining prophylactic cranial irradiation in small cell lung cancer: a systematic review and meta-analysis” fornece dados para auxiliar na conduta para esses pacientes.

Foram identificados 4318 artigos, incluindo ensaios clínicos e estudos de coorte, 223 estudos foram incluídos, totalizando 73777 pacientes, comparando resultados entre pacientes que receberam ou não a PCI. O desfecho primário do estudo foi a sobrevida global. A heterogeneidade entre estudos foi significativa quando agrupados entre todos os estudos (I2 = 73.6%; IC 95% 68.4%–77.9%).

A PCI foi associada a uma maior sobrevida em todos os pacientes com SCLC (HR 0.59; IC 95%, 0.55 -0.63; p < 0.001, n = 56770 pacientes), pacientes com doença em estadio inicial (HR 0.60; IC 95%, 0.55 – 0,65; p < 0.001; n = 78 estudos; n = 27137 pacientes) e estadio avançado (HR 0.59; IC 95%, 0.51 – 0,70; p < 0.001; n = 28 estudos; n = 26467 pacientes).

Foi realizada uma análise de subgrupo pós-hoc em estudos que utilizaram RNM cerebral para excluir pacientes com evidência de metástases cerebrais no reestadiamento. Nesta análise, a sobrevida global não apresentou diferença significativa entre pacientes que receberam ou não a PCI (HR 0.74; IC 95%, 0.52 – 1.05; p = 0.08; n = 9 estudos; n = 1.384 pacientes).

A incidência de metástases cerebrais, também foi avaliada e foi menor nos pacientes com SCLC que receberam PCI (RR 0.45; IC 95%, 0.39 – 0.52; p < 0.001; n = 63 estudos; n = 8906 pacientes).

Nesta meta-análise, a PCI foi associada a uma melhora na sobrevida global e redução da incidência de metástases cerebrais. Em uma análise de subgrupo de pacientes que realizaram RNM após a conclusão da quimioterapia e excluídos os pacientes com metástases cerebrais, a PCI foi associada à diminuição da incidência de metástases cerebrais, mas não apresentou efeito sobre a sobrevida.

Isso possibilita considerar o uso de exames de imagem para reestadiamento e definição terapêutica desses pacientes. Contudo, é destacado no estudo a preocupação quanto à disponibilidade não uniforme de RNM para reestadiamento no mundo, podendo postergar o diagnóstico de metástases cerebrais, com impacto não só na sobrevida como na qualidade de vida destes pacientes. Sendo que, quando o seguimento por imagem não é uma opção, a omissão da PCI deve ser avaliada com cautela.

Referência: Gaebe, Karolina et al. “Re-examining prophylactic cranial irradiation in small cell lung cancer: a systematic review and meta-analysis.” E Clinical Medicine vol. 67 102396. 3 Jan. 2024, doi:10.1016/j.eclinm.2023.102396

 

Dra. Mônica D’Alma Costa Santos- Residente do 2º ano de Radioterapia no Hospital Sírio Libanês

Dr. Samir Abdallah Hanna – Radio-oncologista titular do departamento de radioterapia do Hospital Sírio-Libanês – SP

ECR

RT 2030