Estima-se que o Carcinoma de Pulmão Não Pequenas Células (CPNPC), seja responsável por cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão. A mutação em EGFR e ALK são as alterações mais comuns neste subtipo tumoral. O risco de pneumonite grave relacionada ao tratamento (PRT) de radioterapia torácica (RT) em CPNPC associada aos inibidores da tirosina quinase (TKIs) é uma grande preocupação e os resultados do tratamento combinado são controversos. Este estudo realizou uma revisão sistemática das publicações existentes na literatura, com o objetivo de avaliar o risco de PRT grave em pacientes com CPNPC submetido a RT associada ao uso de TKIs.
Os fármacos TKIs (EGFR ou ALK mutados) avaliados pela metanálise foram: gefitinib, erlotinib, icotinib, afatinib, osimertinib, dacomitinib, crizotinibe, alectinibe, brigatinibe, lorlatinibe e ceritinibe. Foi analisado o uso concomitante e sequencial da Radioterapia em relação a terapia sistêmica e o endpoint avaliado foi PRT grau 3 ou superior.
Foram eleitos 37 estudos publicados entre março de 2008 a Janeiro de 2023, compreendendo 1.143 pacientes com CPNPC. 20 estudos eram prospectivos e 17 retrospectivos. Os pacientes EC III, receberam radioterapia (60Gy ou mais) associado a quimioterapia. No cenário de doença metastática, os pacientes receberam TKI na 1ª linha combinado a RT upfront ou de resgate. Em relação ao momento da realização de Radioterapia: 26 estudos realizaram TKI + RT concomitante, 6 fizeram tratamento sequencial, 2 apresentavam tempos variados e 3 não relataram sua sequência de tratamento.
Dos 1.143 pacientes tratados, foi relatado pneumonite grave (grau 3 a 5) em 3.8% (95% CI, 1.8%-6.5%) dos pacientes, dos quais a PRT grau 5 (fatal) ocorreu em 0.1% dos pacientes (95% CI, 0.0%-0.3%).
Na análise de subgrupo, a proporção de TRP grave foi de 2,3% (IC 95%, 1,0%-4,1%) para pacientes em RT/QT definitiva (19 estudos, n = 702) versus 2,9% (IC 95%, 1,3%-5,1%) para pacientes que receberam SBRT ou RT paliativa (15 estudos, n = 361).
A taxa de TRP grave foi maior no tratamento concomitante x sequencial: de 4,9% (IC 95%, 2,4%-8,1%) versus 0,4% (95%IC, 0,0%-3,1%).
Com base nesta meta-análise, a adição de RT com TKI pode não aumentar substancialmente a toxicidade grave de PRT associada a qualquer QT/RT ou RT local. O momento ideal para adicionar RT torácica à terapia com TKI ainda permanece desconhecido. A maior taxa de PRT grave ocorreu no tratamento concomitante, portanto o estudo sugere como cautela a suspensão do tratamento com TKI por 2 a 4 dias antes do início da RT.
Aguardamos os dados dos estudos em andamento: NORTHSTAR avaliando RT combinada e osimertinibe; e o estudo LAURA que investiga osimertinibe após QT/RT em tumores irressecáveis EC III.
Colaboração –
Dra. Anne Karina Kiister Leon
Hospital Santa Rita de Cássia – HSRC
Instituto Radioterapia Vitória – IRV
Núcleo especializado em Oncologia – NEON