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Lung ART: Radioterapia pós-operatória versus observação em pacientes com neoplasia de pulmão não pequenas células com ressecção completa e envolvimento nodal N2

O Lung ART é um estudo randomizado de fase III que teve como objetivo fornecer evidências sobre o papel da Radioterapia pós-operatória (PORT) na era da Radioterapia (RT) moderna em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) completamente ressecado com envolvimento linfonodal mediastinal (N2) comprovado citológico ou histologicamente.

Os pacientes foram randomizados para realizar PORT na dose de 54 Gy em 27 ou 30 frações, sendo obrigatória a RT 3D (89%), mas IMRT (11%) foi permitida. O PET-CT e a imagem cerebral foram usados predominantemente no estadiamento e a quimioterapia foi permitida de forma neoadjuvante ou adjuvante.

A sobrevida livre de doença (SLD) em 3 anos foi de 44% no grupo controle e 47% no grupo PORT, mas não foi estatisticamente significativa (p=0,18). Quanto aos tipos de eventos de SLD, a recidiva mediastinal foi menor no grupo PORT, reduzida quase à metade (46% no grupo controle vs 25% no grupo PORT), esse achado é clinicamente relevante, pois a recidiva mediastinal pode levar à sintomas importantes e baixa qualidade de vida. Já a morte foi maior no grupo PORT (5% no grupo controle vs 15% no grupo PORT), sendo a doença cardiovascular a toxicidade mais frequente.

O papel da PORT em pacientes com CPNPC N2 completamente ressecado era baseado em estudos não randomizados e o Lung ART é um estudo randomizado que fornece evidências robustas de que a PORT conformada 3D não pode ser recomendada como padrão de cuidado em pacientes CPNPC EC IIIAN2.

Contudo devemos lembrar que o tratamento deve ser individualizado, discutido em equipe e baseado na avaliação dos fatores risco de recidiva locorregional, como o número e localização dos linfonodos, extravasamento extracapsular, além de ponderar o risco de toxicidade cardiopulmonar em pacientes que poderiam se beneficiar do tratamento.

Mais estudos devem ser realizados utilizando IMRT, prótons, IGRT, combinado a imunoterapia em busca de melhores desfechos e diminuição de toxicidade em pacientes com alto risco de recidiva.

Disponível em: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00606-9

Dra. Marya Luyza Gusmão Lopes Paz
Radio-oncologista
Clínica Irradiar e Hospital Geral de Palmas (Palmas- To)

ECR

RT 2030