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Custo-efetividade de radioterapia estereotática corpórea (SBRT) versus radioterapia convencional para o tratamento do câncer de pulmão não pequenas células estadio I inelegível para cirurgia no sistema público de saúde brasileiro

Estudos de custo-efetividade são considerados padrão ouro para incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde. No Brasil, o sistema público de saúde (SUS) não paga pelo uso da radioterapia estereotática corpórea (SBRT) devido aos custos e à ausência de uma análise de custo-efetividade que demonstre seu benefício clínico. Fora do país, estudos demonstram que SBRT é custo efetivo no tratamento do câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) estádio I em pacientes inoperáveis.

O objetivo do estudo foi avaliar se SBRT é custo-efetivo quando comparado a radioterapia convencional (RTC) no tratamento de CPNPC precoce inoperável, na perspectiva do SUS como pagador. Para tal, desenvolvemos um modelo de Markov analisando os diferentes estados transicionais de saúde (recidiva, progressão e morte), utilizando dados extraídos de ensaios clínicos randomizados para modelagem, e anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs) como desfechos, em uma coorte de homens de 75 anos com CPNPC inicial inoperável tratados por SBRT ou RTC.

O resultado evidenciou que SBRT é mais custo efetivo que RTC, produzindo mais QALYs, com uma relação custo-efetividade incremental (ICER) de R$164,86/QALY e R$105/vida-ano ganho (LYG). A estratégia foi custo-efetiva mesmo considerando uma disposição a pagar de R$25.000(U$9.881,42) /QALY. O benefício monetário líquido (NMB) foi aproximadamente 2x maior. Os resultados foram confirmados com 92% de acurácia na análise de sensibilidade.

Até onde sabemos, este é o primeiro estudo a demonstrar que SBRT é custo-efetivo quando comparado a RTC para o tratamento de CPNPC precoce inoperável em um país de renda média-alta. As implicações destes achados abrem portas para incorporação do SBRT no SUS e convênios, uma vez que o SBRT gera impacto (economia de dinheiro para os pagadores), reduzindo recidivas e progressão da doença, e que a economia gerada poderia ser utilizada na incorporação de outras tecnologias em radioterapia.

Vale lembrar que o Brasil possui equipamentos com tecnologia para realizar SBRT e não o faz por falta de cobertura, e a incorporação poderia estimular diversos serviços a adotarem a tecnologia para atender a demanda de pulmão e outros tumores.

 

Acesso ao artigo:

DOI:https://doi.org/10.1016/j.lana.2022.100329

 

Dr. Gustavo Viani Arruda
Médico radio-oncologista
Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de Imagens Médicas, Hematologia e Oncologia da Universidade de São Paulo (FMRP-USP)

 

ECR

RT 2030