Clube de Revista Oligometástases

Dose e esquema de fracionamento ideal em SABR para pacientes com oligometástase pulmonar: Estudo SAFRON II

A radioterapia ablativa corporal por estereotaxia (SABR) é uma técnica não-invasiva bem estabelecida no contexto da doença oligometastática, com maior efeito biológico que o tratamento em doses convencionais. Porém há um debate envolvendo a otimização da dose e o melhor fracionamento.

Em 2016, foi publicado na revista BMC Cancer1 o protocolo do estudo randomizado de fase II TROG 13.01 SAFRON II, que teve como objetivo primário acessar perfis de segurança e eficácia do procedimento em dose única e em dose fracionada, em pacientes com doença pulmonar oligometastática.

Em 2021 foram apresentados os resultados do estudo no encontro anual do ASTRO e publicados na Revista Jama Oncology2 (fator de impacto 33 no ano de 2022). O projeto incluiu 90 pacientes em 13 centros da Austrália e Nova Zelândia com 1-3 oligometástases pulmonares de tamanho menor ou igual a 5cm de qualquer sítio primário não-hematológico de localização não-central (total de 133 oligomestástases). Os critérios de inclusão também exigiam performance status 0 ou 1 e que toda a doença primária e extratorácica estivesse controlada. Os dois esquemas de tratamento eram ou dose única de 28Gy ou 4 frações de 12Gy em cada oligometástase.

Os desfechos principais estudados foram efeitos adversos (grau 3 ou maior) ocorrendo no intervalo de 1 ano após o procedimento. Os desfechos secundários foram sobrevida livre de falha local, sobrevida global, sobrevida livre de doença e desfechos relacionados à qualidade de vida.

Com um seguimento mínimo de 2 anos, o estudo não encontrou diferença em toxicidade maior ou igual a grau 3. Também não foram encontradas diferenças em sobrevida livre de falha local, sobrevida livre de doença e sobrevida global entre os dois esquemas de tratamento. Com isso, os autores concluem que devido ao perfil de segurança e eficácia similares entre os dois braços do estudo, o esquema em dose única pode ser potencialmente mais conveniente para os pacientes.

O protocolo exigia que nenhuma terapia sistêmica durante ou pós procedimento fosse instituída até a progressão. E finalmente temos a publicação dos resultados após um seguimento mediano de 5,4 anos3. Não houve diferença significativa entre os dois braços para a sobrevida global ou para a sobrevida livre de doença. Além disso, um terço dos pacientes observados se apresentavam livres de doença no seguimento longo, sem terem recebido terapia sistêmica, o que reafirma a indicação da SABR isolada como estratégia em pacientes selecionados.

 

Dra. Raquel Guimarães
Chefe do serviço de Radioterapia do INCA
Radio-oncologista do Grupo Oncoclínicas
Pesquisadora do Centro de Estudos em Saúde COPPEAD / UFRJ

ECR

RT 2030