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Radioterapia reduz recidivas nos pacientes com linfoma Hodgkin precoce e Pet Negativo após quimioterapia com ABDV

Tendo em vista o excelente prognóstico dos pacientes com linfoma Hodgkin (LH) precoce e favorável, diferentes estratégias de deescalonamento têm sido avaliadas com o intuito de reduzir os riscos de toxicidade e potenciais segundas neoplasias.

Há cerca de 2 anos, o grupo cooperativo alemão publicou os resultados do estudo fase 3 HD16, que envolveu pacientes com LH precoce e favorável, e revelou que a omissão da radioterapia (RT) nos pacientes com PET negativo após 2 ciclos de quimioterapia com ABVD foi inferior ao tratamento combinado associado à RT de consolidação com dose de 20 Gy em campo envolvido1. Portanto, a omissão da RT do tratamento combinado implicou na redução significativa da sobrevida livre de progressão, mesmo em pacientes PET-negativos.

Neste estudo em análise, os autores avaliaram todas as recorrências no grupo de pacientes com PET negativo e descreveram os padrões de recaída a fim de avaliar o efeito protetor da RT nas recidivas locorregionais2. Especificamente, observaram se as falhas ocorreram dentro ou fora do volume de RT ou do “potencial volume de RT” nos pacientes irradiados e não-irradiados, respectivamente. Após um seguimento mediano de 47 meses, observou-se recorrência em 15 dos 328 pacientes PET-negativos designados para o tratamento combinado e 29 dos 300 pacientes PET-negativos designados para a estratégia PET-adaptada, ou seja, ABVD isolado. A incidência de falha dentro do campo da RT foi de 10,5% nos pacientes não irradiados e 2,4% nos pacientes irradiados (P = 0,0008). Não houve diferenças significativas nas recidivas fora do campo da RT e na incidência de segundas neoplasias entre os dois grupos e não houve toxicidade grau 4 no grupo irradiado.

Embora o deescalonamento seja desejável e deva ser avaliado sob diferentes estratégias, a omissão da RT envolve potencial risco de recidiva local, mesmo em pacientes bem selecionados, com doença precoce, favorável e PET-negativo após a quimioterapia. A ausência de diferença na sobrevida global e a possibilidade de resgate como justificativas para a indicação do tratamento sistêmico exclusivo devem ser ponderadas e comparadas aos riscos associados à terapia de resgate. Nesse contexto, se há redução significativa do risco de recidiva loca e potencial menor risco de toxicidade tardia e segundas neoplasias com a dose e volume de irradiação atualmente empregados, a consolidação com RT deve ser considerada como abordagem padrão após 2 ciclos de ABVD.

Referências
1- Fuchs M, Goergen H, Kobe C, et al. Positron Emission Tomography-Guided Treatment in Early-Stage Favorable Hodgkin Lymphoma: Final Results of the International, Randomized Phase III HD16 Trial by the German Hodgkin Study Group. J Clin Oncol. 2019 Nov 1;37(31):2835-2845.

2- Baus C, Goergen H, Fuchs M, et al. Involved-Field Radiation Therapy Prevents Recurrences in the Early Stages of Hodgkin Lymphoma in PET-Negative Patients After ABVD Chemotherapy: Relapse Analysis of GHSG Phase 3 HD16 Trial. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2021 Nov 15;111(4):900-906.

Dr. Douglas Guedes de Castro
Médico Radio-oncologista no A. C. Camargo Cancer Center e Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

 

ECR

RT 2030