Introdução: O câncer anal (CA) é um tumor relativamente raro, responsável por cerca de 2,5% dos tumores relatados do sistema digestivo. Historicamente, pacientes eram tratados com amputação abdominoperineal. Após combinação 5-fluorouracil/mitomicina e radioterapia, ocorreu uma mudança de paradigma no tratamento. Desde a adoção do tratamento multimodal sem cirurgia, houve melhora na sobrevida no CA. Há poucas evidências sobre os resultados de tratamentos radioquimioterapia (RTQT) para CA de países em desenvolvimento. Não há estudos avaliando a relação ou associação entre determinantes sociais de saúde e sobrevida.
Objetivos: investigar o impacto do tumor, fatores socioeconômicos e sobrevida global (SG) de pacientes tratados com radioquimioterapia (RTQT) em um país em desenvolvimento.
Métodos: Foram identificados pacientes diagnosticados com CA entre 1999 a 2020, na base de dados da Fundação Oncocentro de São Paulo. Foram incluídos pacientes com estadio I-III, tratados com RTQT. Foram extraídos dados sobre idade, sexo, estádio tumoral, estádio nodal, escolaridade, tempo de radioterapia, histologia e local de tratamento. Em um modelo de riscos proporcionais de Cox, a razão de risco e 95% de IC foi utilizada para testar a relação entre tumor, paciente e fator social com SG e sobrevida câncer específica (SCE).
Resultados: Foram incluídos 1.462 pacientes. Mediana de seguimento foi de 72 meses. A SG e a SCE em 5/10 anos foram de 61%/ 46%, e 67%/60%, respectivamente. Na análise univariada, o estádio T, estádio N, sexo e nível educacional foram associados ao OS e SCE (p=0,001). Na análise multivariada, sexo feminino, estádio T1/2, estádio N0 e tratamento realizado em serviço privado foram fatores independentemente associados à SG (p=0,001). Para SCE, sexo feminino, estádio T1/2, tratamento realizado em serviço privado e estádio N0 permaneceram significativos.
Conclusão: A RTQT produziu taxas satisfatórias de OS e SCE em pacientes com CA de um país em desenvolvimento. Tumor, paciente e fatores socioeconômicos influenciaram significativamente nos desfechos. Esses dados poderiam ajudar a mitigar os efeitos das distorções sociais na sobrevida do CA.
Ianara Brasil
Médica HC-FMRP USP
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