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Mudança longitudinal nas habilidades motoras finas após radioterapia cerebral e biomarcadores de imagem in vivo associados ao declínio

Habilidades motoras finas (HMF), incluindo coordenação motora e velocidade, podem diminuir após radioterapia cerebral. Além disso, este domínio é muitas vezes ofuscado pela avaliação de funções cognitivas de alto nível, como a memória. HMF são críticas para muitas atividades da vida diária, e sua preservação é crucial para manter independência funcional e qualidade de vida dos pacientes.

Este é o primeiro ensaio clínico observacional longitudinal prospectivo desenhado para avaliar o impacto da radioterapia cerebral nas HMF. Cinquenta e dois pacientes com tumores primários de SNC, mais de 18 anos de idade, KPS acima de 70% e expectativa de vida acima de 1 ano, submetidos a radioterapia local foram avaliados com testes neurocognitivos e exames de imagem com RM volumétrica e uso de tensor difusional.

Em seus resultados, a idade avançada foi associada ao declínio no teste de velocidade motora fina (DKEFS-MS) em 6 meses (P = 0,001). Já os pacientes não brancos obtiveram pior desempenho nos testes de coordenação motora fina (PNDH) em 6 meses (P = 0,04) e o uso de medicamentos anticonvulsivantes também foram associados a um declínio nestes testes (PDH e PNDH) neste período (P < 0,05).

Os pacientes canhotos apresentaram pior desempenho em coordenação motora fina até 12 meses (p = 0,002), comparados com os pacientes destros. Isso indica que, assim como no planejamento neurocirúrgico, evitar radiação do córtex motor primário dominante pode ser particularmente importante para poupar a função da mão dominante.

Com relação ao tratamento de radioterapia, a dose média mais alta foi associada a maior difusão média (MD) e espessura reduzida do lado direito da substância branca superficial pré-central (P = 0,04) e córtex paracentral (P = 0,03). Atrofia do segmento do trato corticoespinhal pontino esquerdo (P = 0,02) e anisotropia fracional (FA) reduzida no membro posterior direito da cápsula interna (P = 0,03) foram associados a pior pontuação no teste de coordenação. Atrofia do córtex cerebelar esquerdo (P = 0,001) e direito (P = 0,02) foram associados a pior desempenho de coordenação motora fina, enquanto maior MD à esquerda (P = 0,004) e à direita (P = 0,005) da substância branca cerebelar foram correlacionadas com piores pontuações no teste de velocidade motora, assim como o afinamento do córtex pré-central esquerdo (P = 0,02).

A atrofia do globo pálido direito foi associada a pior desempenho de coordenação e destreza na mão não-dominante (P = 0,02), sem outras associações significativas entre biomarcadores de imagem e declínio de HMF no restante dos gânglios da base.
A perda de integridade no trato corticoespinhal, ao invés da SB superficial, prenunciava pior desempenho HMF. Embora o trato corticoespinhal seja menos sensível a danos radio induzidos, os resultados implicam que a lesão do trato corticoespinhal tem consequências funcionais importantes quando ocorre.

Dessa forma, essas regiões cerebrais podem representar áreas eloquentes que demandam maior atenção e cuidado no planejamento da radioterapia de SNC. As populações de pacientes de risco podem exigir terapias mais intensivas pré e pós-tratamento, a fim de melhor preservar a função neurocognitiva fina e a qualidade de vida desses.

Dra. Bruna Bueno
Responsável pelo Depto. de SNC da Rádio-oncologia no RJ
Membro Titular do Núcleo de SNC do Grupo Oncoclínicas
Grupo Oncoclínicas – Rio de Janeiro

Referência: “Longitudinal change in fine motor skills after brain radiotherapy and in vivo imaging biomakers associated with decline” Salans M, Tibbs MD, Karunamuni R, Yip A, Huynh-Le MP, Macari AC, Reyes A, Tringale K, McDonald CR, Hattangadi-Gluth JA. Neuro Oncol. 2021 Aug 2;23(8):1393-1403.

ECR

RT 2030