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Estudos destacam potencial do hipofracionamento como opção de tratamento de câncer de mama

Hipofracionamento em câncer de mama foi um dos temas do XX Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia, realizado entre 15 e 18 de agosto, em Belo Horizonte (MG). Palestraram sobre o assunto os radioncologistas Rinna Sujata Punglia, do Dana Faber Institute (EUA), e Miguel Torres Leite, do Instituto de Radioterapia São Francisco e da Santa Casa de Belo Horizonte – MG).

A radiação em tratamento de câncer de mama já é utilizada há cerca de 12 anos na medicina. Ao longo do tempo a técnica foi evoluindo. Atualmente, pesquisas mostram que os resultados do hipofracionamento e do fracionamento convencional são equivalentes.

No entanto, aponta Rinna, o hipofracionamento traz maior praticidade para a paciente e menor custo. Além disso, tornou-se uma opção ainda melhor com a homogeneidade das doses. “Com subcampos e energia de feixes mais altas conseguimos homogeneizar as doses em todas as pacientes”, afirmou.

Estudos sobre esquemas de hipofracionamento, especialmente canadenses e europeus,  analisaram doses, sobrevida e efeitos colaterais, comparando esses resultados com o fracionamento tradicional e não houve diferenças significativas para as pacientes. “Apenas em pacientes em estadio de alto grau é que um estudo canadense apontou maior índice de recidivas. Em função disso, não optamos por hipofracionamento nesses casos e pesquisas estão sendo realizadas para avaliar essa questão”, informou Rinna.

Nos Estados Unidos, até 2018, de acordo com a radioncologista, o tratamento padrão para pacientes com câncer de mama, com até 50 anos, nos estadios 1 e 2, era cirurgia conservadora e hipofracionamento, com o cuidado de excluir o coração do campo irradiado. As pacientes não eram submetidas à quimioterapia. Esse guideline foi atualizado pela American Society for Radiation Oncology (ASTRO ) neste ano e o protocolo passou a permitir a quimioterapia e coloca que o hipofracionamento pode ser apenas amenizado na área do coração.

O radioterapeuta Miguel Torres Teixeira ressalta que os estudos realizados não consideram pacientes com doenças localmente avançadas, drenagem linfática e portadoras de próteses após reconstrução. “Em minha prática médica atuo com hipofracionamento em pacientes mastectomizadas. Para isso, explico e ofereço as duas opções – hipofracionamento e fracionamento convencional. A maioria acaba optando pelo tradicional em virtude da falta de dados de pesquisa relacionada a hipofracionamento para esse perfil de paciente”, informou. Segundo ele, sob o ponto de vista da radiobiologia, o hipofracionamento é vantajoso em relação a efeitos colaterais. “No entanto, ainda carecemos de estudos sobre, por exemplo, as consequências da radiação nos linfáticos periféricos”, afirmou.

O cronograma do tratamento do câncer de mama com hipofracionamento é outro objeto em estudo. “Para o câncer de mama nós adotamos o hipofracionamento em período de três semanas”, afirmou Rinna. Há estudos avaliando esse cronograma – uma, três ou seis semanas – mas é preciso aguardar dados mais maduros antes de alterar o atual protocolo, de acordo com a especialista.

Comparando o hipofracionamento e o fracionamento convencional em relação a toxidade não há diferença entre os dois métodos. Em relação aos efeitos colaterais como descamação da pele, dermatite e dor, o hipofracionamento traz vantagens para a qualidade de vida da paciente.

A irradiação acelerada parcial da mama está sendo estudada. Há pesquisas que analisam desfecho, toxidade e recidiva. “Os resultados ainda são precoces e estamos aguardando os desfechos a longo prazo. A maioria dos centros dos Estados Unidos não está familiarizada com essa técnica”, informou Rinna.

ECR

RT 2030