Clube de Revista Genito-urinário Próstata

Tempo para realização da radioterapia (RT) após prostatectomia radical (PR): resultados de longo prazo do estudo Radicals-RT (NCT00541047)

Este é um ensaio clínico internacional, fase III, multicêntrico, aberto, randomizado e controlado. O protocolo contém duas randomizações separadas com grupos de pacientes sobrepostos e foi implementado em 138 centros credenciados para estudos no Canadá, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido. Os participantes foram randomizados logo após a prostatectomia radical entre RT pós-operatória adjuvante e de resgate. Esta publicação é a atualização do follow-up de 8 anos do estudo. Em 2020, a primeira publicação estava relacionada ao follow-up de 5 anos.

Foram randomizamos 1396 pacientes entre outubro de 2007 a dezembro de 2016 com ≥ 1 fator de risco (pT3/4, Gleason 7-10, margem positiva, PSA pré-operatório ≥ 10 ng/ml), randomizados para RT adjuvante ou RT resgate. Foi consideranda falha bioquímica PSA ≥0,1 ng/ml ou três aumentos consecutivos. O endpoint primário foi tempo de ausência de metástases à distância; endpoints secundários foram sobrevida livre de progressão bioquímica, início de terapia hormonal não protocolar e toxicidade do tratamento.

A idade média foi 65 anos. 93% do grupo RT adjuvante iniciaram o tratamento em até seis meses após randomização. 39% do grupo RT resgate fizeram a radioterapia durante o follow-up. A média de follow-up foi 7,8 anos, sendo relatados 80 eventos de metástase à distância. Em 10 anos, o percentual de pacientes livre de metástases a distância foi de 93% para RT adjuvante e 90% RT resgate: HR = 0,68 (95% de intervalo de confiança (CI) 0.43-1.07, p=0.095). Houve 109 mortes, 17 por câncer de próstata. Não houve benefício significativo em sobrevida global (HR=0.980, 95% CI 0.667-1.440, p=0.917). RT adjuvante demonstrou pior incontinência urinária e fecal 1 ano após randomização  (p=0.001); incontinência fecal manteve-se significante após 10 anos  (p= 0.017).

RADICALS-RT tem vários pontos fortes. A população de pacientes, recrutada principalmente no Reino Unido, Dinamarca e Canadá, é representativa de homens submetidos à prostatectomia radical internacionalmente. A taxa de falha do PSA após a prostatectomia radical isoladamente foi relativamente alta, e, portanto, adequada para um ensaio que testa o impacto da RT adjuvante. A adesão ao tratamento e ao acompanhamento foi elevada e consistente em ambos os braços. As medidas de resultados incluíram não apenas a toxicidade avaliada pelo médico, mas também os resultados funcionais relatados pelos pacientes.O uso de terapia hormonal (neo) adjuvante com RT foi deixado à escolha local para refletir a amplitude da prática no início do estudo, com incentivo à co-inscrição no RADICALS-HD.

Em relação às limitações, desde o recrutamento do RADICALS-RT, novas evidências sugeriram que os homens que recebem RT pós-operatória beneficiam-se da adição de terapia hormonal. Embora o maior uso da terapia hormonal possa ter melhores resultados, os dados do RADICALS-HD sugerem que o benefício da terapia hormonal é semelhante, independentemente do momento da RT. Da mesma forma, os resultados do ensaio RTOG SPPORT sugerem um benefício no tratamento não apenas do leito da próstata, mas também da drenagem pélvica em homens que recebem RT de resgate. Esta opção foi permitida no RADICALS-RT, porém, mais de 95% dos participantes que fizeram RT a receberam apenas no leito. Mais uma vez, não há evidências de que a RT nodal pélvica têm um efeito diferencial na configuração adjuvante ou de resgate. Avanços no tratamento, como estes, proporcionam outro argumento a favor de uma política de RT resgate. Considerando que os pacientes podem receber RT de resgate anos após a prostatectomia, eles podem se beneficiar de novos conhecimentos não disponíveis no pós-operatório imediato.

Os resultados de longo prazo do RADICALS-RT confirmam que a RT adjuvante aumenta o risco de morbidade urinária e intestinal, mas não mostraram benefício suficiente para controle da doença. Esses dados fortalecem a política de observação com RT de resgate tornando-se o padrão após prostatectomia radical

Em relação às perspectivas futuras, a meta-análise ARTISTIC incluirá os estudos randomizados relevantes com acompanhamento contínuo de todos ensaios clínicos, terá o poder de relatar o tempo livre de metástase à distância e sobrevida global. A meta-análise também permitirá análises de subgrupos para investigar se algum subgrupo poderia ser beneficiado pela RT adjuvante.

 

Dra.Mayza Furtado
Rádio-oncologista do Hospital Ophir Loyola e Hospital Saúde da Mulher – Belém/ PA

Parker, C. C., et al. “Timing of radiotherapy (RT) after radical prostatectomy (RP): long-term outcomes in the RADICALS-RT trial (NCT00541047).” Annals of Oncology (2024).

Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.annonc.2024.03.010

 

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