Clube de Revista Genito-urinário

Interlace Trial: Ganho em sobrevida global ao associar a quimioterapia de indução à radioquimioterapia radical em pacientes com câncer de colo uterino

O estudo fase 3, multicêntrico e randomizado GCIG INTERLACE foi apresentado na ESMO 2023, evidenciando importantes desfechos e com robusta possibilidade de mudança de prática, inclusive no cenário de saúde pública.

Foram incluídos pacientes com carcinoma de colo uterino subtipo escamoso ou não, e estágios FIGO (2008) IB1 com linfonodo positivo, IB2, II, IIIB ou IV. Esses pacientes foram randomizados entre:

*Braço padrão: radioquimioterapia + braquiterapia.

*Braço experimental: quimioterapia de indução (6 ciclos de carboplatina + paclitaxel semanal), seguido de radioquimioterapia + braquiterapia.

Obs: Foi mandatório a dose total de ao menos 78 Gy (EQD2) no Ponto A e recomendado braquiterapia 3D.

Os endpoints primários foram sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG).

500 pacientes foram recrutadas em 32 centros de 5 países, com idade mediana de 46 anos (24-78). A grande maioria, 77%, se apresentava como FIGO II e 57% eram N-. 82% tinham subtipo escamoso.

Os braços foram bem balanceados e, analisando os tratamentos, houve mais efeitos adversos G3+ no braço da QT de indução (59 vs 48%). Apesar disso, foi evidenciado uma boa tolerância, com 92% dos pacientes conseguindo realizar 5-6 ciclos da quimioterapia de indução. Quanto à radioterapia, mais pacientes conseguiram completar a EBRT (97 vs 92%) e a braquiterapia (95 vs 89%) no braço experimental.

Após um seguimento mediano de 64 meses, a adição da quimioterapia de indução se mostrou superior em ambos os endpoints:

*SLP em 5 anos: 73% vs 64% (HR 0.65; 95%CI:0.46-0.91, p=0.013)

*SG em 5 anos: 80% vs 72% (HR 0.61:95%CI:0.40-0.91, p=0.04)

O estudo concluiu que a quimioterapia de indução seguido de radioquimioterapia melhorou significativamente a SG e SLP dos pacientes com câncer de colo uterino localmente avançado, devendo ser considerada como um novo padrão de tratamento. Além disso, a metodologia do estudo, que incluiu diferentes cenários socioeconômicos, tende a favorecer sua ampla aplicabilidade.

Ana Beatriz Ribeiro

Radio-oncologista e Responsável Técnica na Oncomed – Niterói/RJ

ECR

RT 2030